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O Prisioneiro Maldito.

 

 

Péssima noite para pegar a estrada, uma chuva torrencial caia sobre a cidade, mas Jaime tinha que ir visitar sua mãe, que na última tarde fora internada, vítima de um mal súbito.

 

Enquanto trafegava em velocidade moderada um estranho arrepio lhe percorreu a espinha, como se pressentisse o pior.
 

 

Ele parecia ser o único a trafegar pela rodovia, e provavelmente deveria, as condições do tempo eram terríveis. Receoso pelo pior, ele resolveu que esperaria um pouco assim que avistasse um local seguro para encostar o carro, não estava se sentindo bem.

 

Alguns quilômetros adiante ele avistou uma luminosidade no meio da mata, saiu da rodovia e por uma barrenta estrada vicinal ele seguiu para o local. Acabou por se deparar com um mosteiro de aparência milenar e resolveu entrar para pedir abrigo.

 

Bateu à maciça porta de madeira, mas ninguém parecia disposto a atendê-lo. Insistiu, ele percebia que não estava em condições de seguir viagem, mas antes que alguém abrisse, ele desmaiou.

 

Jaime despertou com uma terrível dor de cabeça e um mal estar que jamais sentira. Estava em um pequeno quarto escuro que dispunha apenas de uma rústica cama na qual estava deitado.

 

Pelo som na janela, a chuva não dava trégua.

 

Assim que ele  tentou se levantar um monge, trajando a túnica habitual, entrou no quarto.

 

- Obrigado por me darem abrigo, mas que lugar é esse? Nunca ouvi falar de um mosteiro por aqui...

 

- Você deve deixar esse lugar o quanto antes. – balbuciou o homem, preocupado.

 

- Sim, assim que eu me sentir melhor, não estou nada bem.

 

- Saia, o quanto antes. – finalizou o monge, antes de deixar o quarto.

 

Sua garganta estava seca, ele transpirava em abundância e parecia febril. Jaime decidiu sair e pedir um pouco de água e algum remédio, se deparando com um longo corredor iluminado por candelabros nas paredes. Mesmo sendo um local dedicado a Deus, o mosteiro era apavorante.

 

Perambulou com dificuldade pelo corredor sem encontrar mais ninguém, até se deparar com uma escadaria, descendo por ela.

 

Aterrorizado ele percebe que o local se parece com uma masmorra, e dá um pulo quando ouve uma súplica de dentro de uma das celas.

 

- Por favor, me ajude, meu amigo. Estou preso aqui há muito tempo, e esses monges me torturam diariamente. Me solte e eu te levo até a saída. Temos que sair daqui antes que eles façam o mesmo com você. Por favor... – um homem de aparência cadavérica estava agarrado às grades.

 

- Mas, por que eles fariam is...

 

-Saia já daí! Afaste-se dele! – interrompeu uma voz autoritária por trás de Jaime.

 

Um monge o agarrou pelo braço, arrastando-o pelos corredores sem que ele consiga esboçar alguma reação. Seu estado de saúde é deplorável.

 

Logo Jaime estava em um amplo salão repleto de outros monges, que o olhavam com severidade.

 

- Sabemos do seu estado, rapaz, no entanto não podemos permitir que permaneça conosco. Ficamos preocupados com sua condição, mas foi um erro deixá-lo entrar. Você terá que partir do nosso mosteiro imediatamente. – sentenciou aquele que parecia o líder.

 

Jaime, antes que pudesse argumentar, desmaiou novamente.

 

Assustado ele despertou com o impiedoso ruído dos trovões que acompanhavam, ainda, a torrencial chuva.

 

A porta do quarto estava aberta e logo lhe vem à mente a súplica do prisioneiro. Devia fazer algo por ele.

 

Ganhou mais uma vez o extenso corredor e procurou algo com que pudesse arrebentar a corrente que trancava a cela do pobre homem. Após muito perambular pelos extensos e sinistros corredores ele acabou encontrado um pequeno depósito, onde pegou uma enorme chave de fendas.

 

Voltou pelo corredor e logo reconheceu a escadaria que levava à masmorra.

 

- Amigo, irmão, sabia que você voltaria. Por favor, me tire daqui. Esses monges seguem o mal e se deliciam com as torturas que me impõem. Me solte, por favor...

 

Com dificuldade a corrente foi arrebentada e, assim que se viu livre, o cadavérico homem saiu correndo da cela, para logo desaparecer emitindo diabólicas gargalhadas.

 

- Maldito, o que fez? – gritou um dos monges, agarrando Jaime pelo braço.

 

- Me solte, desgraçado! – ele lutou para se desvencilhar.

 

- Sabe o que acaba de fazer? Você não libertou apenas um homem, você libertou Lúcifer, que possuí aquele corpo. Agora ele está livre de sua prisão, e sua alma, rapaz, está amaldiçoada! Como retribuição pelo favor que lhe fez, soltando-o, ele condenará sua alma ao inferno, por toda eternidade! – esbravejou o religioso, jogando-o no chão.

 

Jaime solta um terrível grito.


O impacto do seu debilitado corpo com o frio piso rochoso quase o fez perder a consciência.

 

Um fulminante infarto então o acometeu, arremessando-o, conforme profetizara o monge, aos confins do inferno.


Enquanto sua alma deixava o corpo, a tétrica risada do prisioneiro ecoava em seu íntimo.

 

conto de terror
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